segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Envolveu cinco

Envolveu cinco fatias de mortadela com as duas partes do pão francês e mordeu manso, almoço, mas seria também jantar, embora ele não soubesse. Daquele bar em diante não haveria mais paragem até a margem do rio, aonde só chegaria ao amanhecer do outro dia, no ritmo lento dos passos cansados. Era promessa visitar a Virgem. Orar a ela em agradecimento às próprias pernas, que ainda andavam depois do acidente. Na data, prometera até ira à Lua, se permanecesse na Terra.
A capela era capenga, mas nitidamente santa. Sem portas há muito, talvez séculos, convidava à entrada. Ele se esqueceu da fome presente e da família ausente para sempre. Depois, daquele acidente nem se lembrou, encantado com a imagem barroca da Virgem. Fosse são e não a veria. Haveria ali algum mistério, além da luz que habitava o banco tosco, vinda do alto, pela falha das telhas. Ele se sentou e foi como se ouvisse: “te esperei há tempos!”.

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