sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Escondida pela

Escondida pelas plásticas e cosméticos, faltava-lhe uniformidade. Era enorme, tia Merci. Sua altura não terminava no alto da testa. Havia o cabelo sempre a postos, como orelhas de cão em estado de alerta. Dada aos cantos, não necessariamente àqueles que se formam nas beiradas, dos quais também gostava – e contam que foi por isso que nunca se casou, mas ao bel-canto, tinha a voz em falsete, que às vezes recaía num vibrato áspero, como o das negras cantoras de blues. Apesar da exuberância na forma, era tímida no conteúdo. Custava a socializar-se nos ambientes, a fazer às vezes de cantora ou uma amizade.
Tão sozinha, maquiava sua reclusa. Avaliava-se tão intensamente, que uma pinta, uma tênue papada ou uma magra gordurinha eram motivos para nova cirurgia plástica. Morar na cidade distante foi seu mal inicial. Quando, enfim, voltou balzaquiana à pequena Santa Rosa do Monte Alto, de surpresa e vestido florido, foi galanteada pelo também arredio Coronel Mário, solteirão de cem alqueires. O homem só sossegou com a revelação triste que tia Merci teve que fazer-lhe: - “Mário, sou eu, Merci, sua irmã!”.

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