quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Ferro enferrujado

Ferro enferrujado, roseiras mal cuidadas, delírio esfarrapado, dedão envolto com bandeide. Sentado no portão da velha casa, olhando quem passava, Wilson era razoável, devotado e dado às frases conclusivas. Tudo aquilo que caracteriza um homem medíocre. Fazia a barba às segundas, quartas e sextas. Aos sábados, o banho era demorado. As unhas cortadas no domingo, com a regularidade de uma missa. Ouvia o futebol para ter assunto, o noticiário para falar (mal) do governo, músicas sertanejas para se lembrar do amor: Norma, Norminha, normalista, normalíssima. Aquilo, sim, fora paixão. Ela quase amou Wilson. Quase jurou trair o voto de castidade, feito ainda mocinha, quando sarou de um sarampo. Quase empolgou-se com a fala uníssona do moço do banco (sim, Wilson era bancário). Quase viveu para cuidar da mãe, não fora a distração para atravessar as avenidas. O contínuo da agência foi o único a saber do amor perdido de Wilson, mas esgotou-lhe o poço da tolerância quando se dispôs a consolar-lhe. Nem mil e uma paciências suportam a obviedade.

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