segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Humanos direitos

Humanos direitos. Era assim, que o sargento Sandoval, definia os “bons”. Com um contorcido de sorriso amigável, interrogava os “suspeitos”, postado diante deles como a encarnação do demônio. Tomado por um sentimento que exige decisões rápidas e não admite escrúpulos morais, julgava os integrantes da fila, que mandava formar durante a blitz na favela, como se jogasse um punhado de sal no doce de leite da vida. Esse vai, aquele fica. Decidia, sectário.
Errou inclemente ao indicar Carlão Bala à fila dos que iam. Ir, significava o mal, para os maus. Bala era o próprio bem, entre os bons e maus, apesar do codinome dúbio. O crioulo forte, recebeu o apelido por sua fé em Cosme e Damião, que o levava à farta distribuição de doces entre os meninos da favela. Bala comeu o doce que o diabo salgou. Voltou à vida na vila meses depois, baleado e entristecido. No dia dos santos de sua devoção, esperou horas no distrito policial até a chegada do sargento Sandoval. Dirigiu-se a ele com seis balas de coco, e lhe entregou envolto em amabilidades. “Você não teria direito a isso, humano, mas espero que elas sirvam para adoçar sua chibata retórica equivocada”. Sandoval não abriu a boca. Foi procurar um dicionário, para saber se punia ou não o humano errado.

Um comentário:

  1. Molinho

    Seu texto está sensível e belo como sempre.

    te amo
    sua
    Dan Dan

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