terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Vô Júlio nunca

Vô Júlio nunca mais voltou. Fanfarrão e sempre de óculos escuros, tinha um ar de cafajeste. Toda família observava... ele até fumava. Contam que veio de Portugal para o Brasil trazendo apenas os quatro filhos e a mulher, mais nada. Contratado para a lavoura, nunca pegou na enxada. Abriu logo um armazém de secos e molhados, para vender bacalhau e tremoços aos compatriotas, quase expatriados. Somou, mas nunca dividiu. Vinha às vezes visitar a filha, já casada com outro português, já com quatro filhos, já com netos, bisnetos de vô Júlio, como eu. Outros moravam longe. Numa tarde de domingo, como se fosse ao armazém fazer alguma lida, desapareceu. Ninguém nunca soube se por ar, por terra ou por mar. Velho mar, que vô Júlio tanto nostalgiava. Vai ver fez a história ao contrário. Foi ganhar a vida em Portugal onde, contavam as tias, aqui enraivecidas, tinha deixado uma outra família.
Dizem que as histórias de quase todos os imigrantes são parecidas. Podem ser, mas só da minha o vô Júlio fez parte. As outras estão vagando por aí, sabe Deus onde...

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