segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Cara e característica

Cara e características coincidiam com as do pedreiro José Belo, procurado por edificar o terror no feio bairro da Pedra Morta. Chacoalhando a cabeça em balanço musical e caminhando aos saltinhos, como se dançasse, o homem mais parecia um foragido de um reino encantado ou uma cópia mal feita de Chapeuzinho Vermelho, no trajeto do bosque até a casa da avó. Um “nem aí”, testemunhariam depois na delegacia.
Foi na frente do salão da igreja avivada que o delegado João Lobo e sua equipe tiraram a vida do rapaz. Prisão, júri e condenação foram realizados ali mesmo, e não demoraram mais do que cinco minutos. À ação do moço de pegar os documentos na bolsa de couro que trazia, já levou três tiros, e recebeu a ordem para entregar-se. “Pra que essa boca tão sanguinolenta?”, ainda gritou Lobo, com o revólver em punho. O moribundo balbuciou engasgado: “meu nome é Antonio Carlos. Sou organizador da parada gay”. Lobo percebeu o equivoco e riu do erro, um riso amarelo. José Belo, contam, continua fazendo coisas feias.

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