domingo, 27 de dezembro de 2009

Trocar em miúdos

Trocar em miúdos sua impertinência era chegar à conclusão evidente que Rosário não deveria mais ler os clássicos. Seus anseios eram enganos. Suas obsessões, fantasias, por vezes macabras. Ficção para os leitores habituais, para Rosário não eram.
Pos advogado e protocolou na Justiça o pedido de localização do túmulo e exumação do corpo de Bento Santiago, o Bentinho, e de seu filho Ezequiel. A finalidade era a de revolucionar de vez os estudos literários brasileiros: promover um teste de DNA, que eliminaria determinantemente a dúvida quanto à traição da senhora Capitolina, dizia Rosário. O arguto advogado cobrou-lhe os tubos, e até localizou o túmulo de um Bento Santiago, no cemitério de Caju, morto em 1905. E, por uns inúmeros outros cruzeiros, o de um Ezequiel Santiago, morto em 1946. Tratou da papelada, recebeu o grosso dinheiro de Rosário e executou o processo e a ação. Com o evidente resultado negativo em mãos e completamente descapitalizado, Rosário procurou a Academia Brasileira de Letras. Na entrada, observou o malicioso riso da secretária, quando declarou sua intenção. Rosário rezou-lhe um terço de difamações, e saiu do prédio aos gritos: “aqui ninguém é sério. Todos temem a verdade!”.

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