sábado, 19 de dezembro de 2009

Indecifrável providência

Indecifrável providência livrou Ligorno do acidente, no qual todos os outros que estavam do carro morreram. Com a ordinária vontade de beber um copo de água, disse que não iria naquela viagem. Deslocaria-se mais tarde, para encontrá-los no rancho de pescaria. Faço meu destino, brincou.
Criou essa história para encená-la na conclusão do curso de teatro. Incendiário sem isqueiro, julgou que arrasaria na nota final, arrebataria o público e receberia louvores de seus mestres, pela competência do enredo. Planejou o discurso, no qual agradeceria um a um, nominalmente, aqueles que colaboraram para o seu êxito. Discurso longo, comum a todos os discursistas que não tem muito conteúdo a falar.
Encenado o esquete, olhou atento para o professor Paulo, ator tarimbado. O homem revidou-lhe o olhar, baixou a cabeça e disse entre os dentes: - “passo sua nota mais tarde, com licença, preciso tomar um copo d’água”.

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