sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Orientado era o que era



Orientado era o que era. E por nunca se perder, decidiu ganhar a vida como piloto de rally. Estudou mecânica, arrumou o velho Opala e com o dinheiro acumulado dos últimos cinco décimos-terceiros comprou um computador de bordo. Não era lá muito crédulo na perícia de Alice, sua mulher, de quem reclamava das faltas ou dos excessos, mas era ela quem estava à mão. Pilotaria o Opala, enquanto ele seria o navegador.
Largaram, com um intervalo de dois minutos do carro anterior, e mantiveram a regularidade, similar àquela que mantinham no casamento, consumido pelos muitos quilômetros e baixa velocidade. Passaram poças, trilhas, buracos e crateras. No limite da glória, Alice o beijou, “meu navegador”, disse dengosa. O resultado veio logo: primeiro lugar, na estréia. Sorte de principiante, intimidade confirmada, meses de luta para o merecimento dos dez mil reais. Foram comemorar no Bar do Pulo, beberam e pularam. Na saída, a fatalidade: o carro deu de frente com uma carreta carregada de frangos para o abatedouro. Ele morreu na hora. Alice sobreviveu, capenga e desorientada. Jamais soube onde foi parar o dinheiro do prêmio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário