sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Sempre enxergo

Sempre enxergo meus sósias dispersos pelas ruas. São claros esses acasos. Tão claros, que às vezes fico imaginando quem seria o modelo original. Morreu na memória aquele que vi espirrando do outro lado da esquina. Eu também estava gripado naquele dia, mas percebi pela roupa que não se tratava de mim. Nem poderia, porque a semelhança tem lá suas diferenças. Sorte que não tenho a pressa da Terra, que quer sempre resolver tudo em 24 horas: claridade e escuridão. Eu, não! Giro numa velocidade diferente, e mesmo quando fujo do eixo deixo o tempo e os lugares se adequarem a mim. Sou parecido com aquele outro, que observei trocando o pneu do carro, lenta e obsessivamente, enquanto eu o espiava pela janela do ônibus, parado num sinal. Aliás, sou extremamente parecido com ele, tem a minha cara, meu corpo, peso e altura. Até olhar por cima dos óculos ele olhava, quando pegou o parafuso que faltava. Mas acho que ele levou uma reles vantagem sobre mim: achou o parafuso!

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