terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Com a nitidez

Com a nitidez de um dia pálido, depois do Sol se pôr, Gonçalo viu Claudomira de mãos dadas com Germano. Imaginou que aquilo era coisa do Diabo, e que Deus, para mostrar ao seu concorrente do que é capaz, foi quem o colocou passando naquela rua, naquela hora, para ver a amada entrelaçada ao rival. Orou até três: pai, filho e espírito santo. Contou até mil, para que passasse o impacto passional, em nome da sua fé inabalável. Sabia-se um homem dividido em dois homens, contudo sem deduzir se transformava-se em um só à noite ou pela manhã. Mais tarde, contou ao pastor a cena que vira e, para o mal de seu pecados, viu que o religioso sorriu dissimulado, bem no cantinho esquerdo dos lábios. Lábios que em nome de tanto Deus repetiu o perdão, no momento pareciam condenar-lhe a “corno dos infernos”. Gonçalo baixou a cabeça e saiu calado. Ideias irascíveis não combinam com compaixão e fé, bem raciocinou. Pensou nas juras de Claudomira, na falsidade de Germano e na maliciosa displicência do pastor. Com seis balas no tambor do velho 38, guardado sobre o guarda-comida desde a sua conversão, professou a velha fé. E distribuiu, irmã e eqüitativamente duas balas para o cérebro de cada um.

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