terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Pedradas isoladas

Pedradas isoladas chegavam no telhado de zinco. Estalos de fazer alarde eram o que ouviam. Bombas de uma batalha por nada. Pedras antigas, provavelmente idênticas àquela que Caim atirou em Abel. E morar no barraco de morro, com um tempo de chuva desses, enfim já era um presságio de hecatombe.
Não eram pedradas de meninos, eram de maldades. Amálgamas sonoras a trovões do tempo, do céu. Um tempo em que ainda não moravam no barraco de zinco. Um céu que então tinham como cobertura da vida. Foi culpa da ascensão. Juliete quis subir. Filhos pequenos. Só a força cavaria a rocha. Só ela, tiraria intrusos, espalharia rusgas e edificaria o teto. Na revanche, as pedras inevitáveis. Aquela inclinação de terra fora o quintal de Olegária, a mesma, do barraco de cima. Vizinha de pedra, carrancuda e magoada pelo quintal perdido.
Com chuva, pedradas. Um jeito tirano de por medo nas gentes do barraco de baixo. Até que veio temporal inclemente. Muitos meses de água em quinze minutos. Ao invés das pedras, o barraco de Olegária chegou inteiro no telhado de zinco de Juliete. E elas, e filhos, e gatos, e seus trecos, desceram. Irmanadas às pedras.

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