sábado, 5 de dezembro de 2009

Menos por fraqueza

Menos por fraqueza do que pela convicção de que um homem que vence na vida é capaz de saber mentir, Orlandivo mentia, sempre e em toda a situação. Era chamado pelos mais cultos de mitômano, mas procurava sempre conviver com pessoas socialmente inferiores, cujo poder de detecção da falsidade de suas histórias limitava-se a uma desconfiança crédula. Metido às posturas irrepreensíveis, contou a um que certa vez, na Inglaterra, fora chamado pela Rainha para dar jeito nos modos de um dos príncipes-netos. Com meia dúzia de cascudões e castigos, como o de colocá-lo de joelhos nos grãos de milho, ensinou o loirinho com quantos paus se faz uma carruagem. “E o moleque passou até a pedir benção pra avó”, concluiu vitorioso. Quem você acha que é chamado para corrigir os times que vão mal nos campeonatos? Perguntava aos distraídos, e logo se apresentava como a solução.
Perdeu a pose no clube, quando João Trinca, cansado de suas fantasias mirabolantes, lascou na roda uma máxima de canto de boca: “Olha, Orlandivo, outro dia Deus me chamou para consertar o Diabo e eu não dei conta, não. Se Ele te procurar, pode dizer que é meu amigo!”.

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