terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Não exijo justiça

Não exijo justiça da ira. Ainda outro dia vi a velha Filomena atirar o pau no gato que lambeu seu leite, posto à mesa do café. Trajano supôs que o amor que Tais lhe tinha era pouco, e se acabou. Endoidecido que ficou, o coitado, quando viu a noiva conversar com um ex-namorado.
A maior satisfação de quem sabe das coisas sempre foi o silêncio, dizia Jaime, que se pos a berrar com Fátima, assim que a coitada lhe trouxe uma cerveja quente.
Por isso me apresento sempre com a amabilidade que eu gostaria de ter, e que acredito possuir. Acho, até, que transpiro narcisismo com esse meu jeito doce. Injusto é que não o sou, nem serei. Assim, pacífico, sei que espanto a ira.
Quando a indignação quer se apossar de mim, cerro os dentes, aperto com força meus dez dedos às mãos fechadas e costumo chutar o primeiro objeto inanimado que me aparece à frente. Tenho consciência: justiça só vale para os seres vivos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário