sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Dado aos afazeres

Dado aos afazeres miúdos, Febrônio impressionou a plebe quando apareceu de seda púrpura para consertar o banco do jardim da praça. Reluzia, no sol do meio-dia. Foi talvez essa atenção que chamou a si, empavonado, a causa de sua condenação.
Naquela cidade, há tempos, sumia meninos. Primeiro foi Carlinhos, no esplendor dos doze anos. Veio a seguir Valdir, já quase à beira dos quatorze. Pedro Vaz fizera onze. E o pobre Juarez não tinha mais do que dez, quando seu corpo foi encontrado, com lamentáveis marcas de destruição moral. A lenda urbana apontava um monstro rubro, que brilhava como seda à luz, aos olhos de testemunhas vagas e incidentais.
O faz-tudo Febrônio era solitário. Um contratado eventual para dar jeito nos vulgares problemas elétricos, hidráulicos ou de qualquer espécie na casa das pessoas ou nas coisas públicas. Quando saia de casa tinha, antes do gesto, um chamado de alguém. Mas gostava de conversar com meninos, o que só pela seda a cidade percebeu.

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