Soergui com um sopro, de susto. Tão mínimo, que parecia sem limites. Não fiquei decepcionado, nem surpreso, a idiota da Beth tem dessas manias. Improvisa os jeitos de me acordar para a vida. Pior foi quando deixou cair a mandíbula pra respirar com a boca no meu ouvido esquerdo. Quer coisa mais incompatível que essa pretensão erótica? Acordei com falta de ar. Sinto esse frenesi diário há anos. Aqueles alvi-olhões em cima dos meus. Às vezes vacilo, como os olhos do Buriti, meu vira-latas, que me fitam, mas quando eu os encaro, ele é obrigado a desviá-los de mim. Só que, com Beth, o Buriti sou eu mesmo. Incólume de bom senso, ela diz que “brinca assim” por caridade, para evitar gritos ou safanões no clarear dos dias. E vamos em frente, nessa fertilidade de contratempos e incidentes. Dizem que a gente muda, se continuar vivendo... Sou feliz, mas como eu li no Beckett, é menos divertido do que eu pensava.
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
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