quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Samambaia que se preze

Samambaia que se preze devolve aos metros a água que recebe. Molhá-la dia sim, dia não, passou do prazer à obsessão. Queria quilômetros aos litros. A pobre afogava-se pela raiz, sem corresponder em grandeza ao gesto abjeto do jardineiro amador.
Como punição ao imponderável, Cloroaldo, cujo pai havia trocado no nome o dê de divino pelo erre de retardado, podou a planta ao “estilo penitenciária”. Máquina zero. Um talinho imperceptível de vida junto ao caule, na folhagem decepada. Sorte que mudou de ares: da casa para o apartamento. Ele, o mutilador. Samambaia ficou lá, ao tempo: Sol quando calor, chuva quando água.
Águas se passaram, Luas em fases, Sol às estações. Cloroaldo fez visita surpresa lá pelos anos futuros. Ela derramava metros, como se risse dele em cada vão das folhas verdes. Surpreso, tentou entender aquele estranho amor pelo descuido. Não fosse uma planta, e ela parecia se saber vingada.

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