segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Estômago empanturrado

Estômago empanturrado, mau humor à flor da boca, um pobre gatinho entre o antebraço e a pança, que miava sôfrego, em duo ao som das flatulências. Seu mal eram os animais, de estimação ou degustação, enxergava neles a salvação do mundo: correndo pela casa ou bem preparados à mesa. Quando se casou com Valdete fez questão de lhe deixar claro, com a boca cheia e uma pontinha de prazer: - só como verdura no tempero da carne.
Carne era sua perdição e conforto. Valdete, magra e mirrada, fora criada no mato, poder-se-ia dizer, a mato. Não se matavam os poucos animais existentes naquele sertão, por sobrevivência e princípios. Quando chegou à cidade, dessecada e definhada, deu sorte de conseguir emprego logo ali, onde também lhe ocorreria “o milagre” de se casar com patrão. Pura pilhéria do santo, a quem rezou pedindo rumos e um marido. Sem saber que onde se ganha o pão não se come a carne, sentiu-se enjoada, meses depois: bovinamente grávida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário