segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Entusiasmo excessivo

Entusiasmo excessivo acaba deixando sobras. Oldemar contava de suas pescarias como quem se apaixona pela primeira vez. Tudo muito intenso e inverossímil. O peixe que quase pescou era tão colossal quanto as suas embarcações fabulares. Só não gostava mais de Hemingway porque este não havia nascido em Barretos.
Tinha espasmos de minhoca sôfrega na ponta do anzol, coceiras da solidão com o caniço na mão, a distraí-lo com obviedades na forma de insetos inexistentes ou roedores teóricos. Gostava de viver assim. Barretense do Mississipi. Visionário dos cardumes que via demais nas últimas 24 horas, sem falar nos últimos 48 anos. Morava, como todos nós, no presente do indicativo, mas vivia no futuro do pretérito em perífrase: iria chegar lá. Por isso o povo da redondeza estranhou a verdade definitiva que o envolveu, quando o caminhão de cana esgalhou-lhe no velho fusca. Estava a caminho da pesca.

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