domingo, 30 de agosto de 2009

Daquele entardecer

Daquele entardecer em diante ninguém mais viu Janjão. Passava os dias sempre por perto. Rodeava cozinha, contornava os quartos, girava o quintal e ladeava a porta de Lenita, com a crença canina de que ela iria voltar. Dava dó, e ele lá.
Fazia quase três anos que ela se mudara para Madri. Casara com Pablo, casara com Miguel, casara com Juan. Quase um marido ao ano, e a fidelidade de Janjão não se importava com a perfídia, nem cessava com a distância. Na fazendola interiorana, do sertão de Goiás, poucos sabiam dizer o nome daquela cidade para qual ela, por carta, agora avisou que iria se mudar, muito menos ter ideia de onde “aquilo” ficava: Vladvostock. Só entenderam que ela se casara com Arman, um diabo de um russo que era médico na Espanha. Leram a carta no finalzinho da tarde, e Janjão deve ter sentido o cheiro das mãos distantes de Lenita, sei lá. Vai ver descobriu, com seus botões, que ela nunca voltaria...

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