quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Conferiu o bilhete

Conferiu o bilhete e... bingo! A exatidão das formas dos números era clara: 21.817, cachorro. Ganhara, enfim. Foi para casa, gorgolejou um copo com água, mexeu o líquido nas bochechas, engoliu tudo e acordou o demônio, que dormia há quinze minutos. Matou-se com um tiro certeiro no céu da boca, como se revivesse antigos contos de Tchecov.
A clemência deixaria grandes condenados. Disputas de bens e aritméticas que não lhe retribuiriam plenamente a paz. Durou o momento, porque o tempo lhe seria longo demais. Nem bilhetes, nem o bilhete. Ninguém soube de sua esperança gorada. Virou lembrança odiosa de um corpo estirado no sofá da sala, covarde afamado, como se a ridícula televisão ligada fosse transmitir, em instantes, o jogo seguinte de seu time contra um adversário invencível.

Nenhum comentário:

Postar um comentário