terça-feira, 1 de setembro de 2009

O lado mais insinuante

O lado mais insinuante de Carmen era o de trás. Horrenda na feição e gestos, dava as costas às observações deselegantes dos moços da vila, e pronto! Lá estava aquilo que calava o mais efusivo gozador: a trança, no formato de um rabo de cavalo, que balançava na ponta uma micro-estátua de Santo Antônio. Sim, ela sonhava se casar, e torturava o santo no pra-lá-pra-cá da trança.
O cego Honorinho não era de todo feio. Bem situado, morava em casa própria, obtida com o dinheiro das esmolas, que ainda lhe sobrava, para viver com fartura e certos prazeres. Não via o feio das coisas, mas enxergava os corações. Acabou por se enroscar na traça de Carmen, e dar cacife ao santo, enfim depositado no altar da paróquia, para a sua glória eterna. Dizem que foi paixão à primeira vista.

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