terça-feira, 22 de setembro de 2009

Entre a cruz e o tacho

Entre a cruz e o tacho fervente, Naiane afrontava as convicções de Guilherme. Tépido, apesar da proximidade ao inferno, o marido era incapaz de dizer um a às diabruras da mulher, sempre adornada com enfeites da vida para colocar no palco suas cenas. Era como se o coitado andasse sobre uma corda bamba, ladeado por um precipício de quizumbas e um abismo de rolos, com barracos na base e confusão iminente à cabeça.
Como uma mão que reboca uma boca fechada, ela fazia questão de tê-lo sempre ao lado, como testemunha de defesa para os seus tumultos e barulhos. Brigava nos caixas dos supermercados, na fila do banco, nas salas de espera, nas bilheterias dos cinemas, enfim, onde qualquer cidadão é obrigado a cumprir determinado prazo, ela se apresentava, à vista. Passaram-se dois anos para que Guilherme, acidentalmente, saísse da condição de testemunha à de vítima. Num baile de debutantes, Naiane chamou o maître, para gritar-lhe quanto à baixa temperatura do vinho. Já alto, Guilherme tomou a taça da mão da mulher e atirou-lhe o líquido na cara. Contam que ela desfechou-lhe tantas unhadas, aos berros e sopapos, que o pobre foi embora, tentar a sorte num purgatório.

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