terça-feira, 15 de setembro de 2009

Ser e parecer sério

Ser e parecer sério. Esse era o sonho de Rodrigo, que apegava-se às gravatas, clubes de serviço e missas, a fim de lograr seu propósito. Deu-se que Márcia, a esposa, doou-se à vida. Os filhos Lucas e Mateus cismaram de trazer para casa toca-CDs que não lhes pertenciam. O cachorro Bilú sumiu, sem deixar pistas. A mãe, acometida de uma tosse infindável, foi internada, sem previsão de alta. O sócio, matreiro, engendrou um pedido de concordata. E Rodrigo saiu do sério.
Contam que a motivação maior, no entanto, foi o acidente que ele provocou involuntariamente quando saía da farmácia. Um pouco desatento com o trânsito, parecia que preocupado com alguma coisa, contam testemunhas. Acelerou o velho monza sem olhar para a rua, e subiu sobre duas motocicletas, que passavam lentamente. Dois mortos e um garupa ferido no crime que o delegado, bacana, descreveu como culposo. Rodrigo deixou de considerar a seriedade uma qualidade. Espatifou-se sua inteireza de caráter. Retidão, agora, só nos seus olhos, que olham fixos para um certo infinito.

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