segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Ínfimo, o homem

Ínfimo, o homem. Some no mapa, no qual poucos milímetros são muitos quilômetros. Vai ver homem e geografia não se misturam, ou ambos se ignoram. Cabeça ao norte, os pés ao sul, braços a leste e a oeste, pose de vitruviano, com tendência gravitacional à queda.
Murilo pensava na vida, enquanto despejava, alquímico, a água fervente no pó, para transformá-la em café. Acordara naqueles dias, filosófico, em que considerava a distância entre as coisas um fracasso, um silêncio de um ponto ao outro, recheado por espaço vazio a ser percorrido. Pensou uma Barsa de parvoíces, uma Bíblia de intolerâncias, um Aurélio de asneiras a zoeiras. Pior ainda, depois da primeira poção do café. Mágica excitação dos duendes da memória, cada um deles com um séqüito de divagações corcundas e verdes. Mas foi quando derramou, descuidado, gotas da mancha negra no velho pijama alvo, que se lembrou atormentado que aquele era o quinto dia útil do mês: data em que todas as contas da casa insistem em vencer.

Um comentário:

  1. eu gosto muito de tudo que hoje, em matéria de escrita, é micro.
    Gostaria de escrever apenas textos assim, micro-crônicas, micro-contos, micro-tudo!
    Fiquei feliz de te ver pelo Mundo.
    Bom poder compartilhar os meus e encontrar os seus insights nesta rede...
    E concordo: mesmo quando são pesados, são leves...

    Abçs

    ResponderExcluir