Meus olhos erravam pela sala, quando acertei Janete. Toda enigmática, divertia o tédio rodopiando os dedões, com as duas mãos encaixadas em si próprias. Misteriosa como um animal com falta de ar, parecia nem ouvir a música, numa inquietude íntima que soprava por olhos e ouvidos. Bem quis tomar emprestados aqueles ouvidos para os meus murmúrios, mas meus imutáveis zunzuns certamente acenderiam o pavio daquela bomba, prestes a detonar sabe Deus o quê. Perguntei a Pérsio sobre a moça. Disse que escutava vozes. Que tinha uma noite em seu cérebro. Que ninguém nunca soube o que de fato aconteceu. Não senti muito. Loucos um pouco, somos inumeráveis, pensei. Aproximei-me, com uma alegria densa. Era cedo para um sorriso de “boa noite”, tarde para voltar atrás. Ela levantou os olhos em minha direção, mas parece que enxergava através de mim. Meio aos trancos ou espasmos balbuciei o óbvio da imaginação gasta: “tá frio, né Janete?”. Ela pareceu divertir-se: “eles acabam de me dizer que dentro de dezoito dias você também estará frio!”.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
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