terça-feira, 29 de setembro de 2009

Coqueiros enfileirados

Coqueiros enfileirados deitavam suas copas no travesseiro de vento. Naquela hora, o mar revolto e o prenúncio de furacões, deixavam a pequena aldeia calada. A maior manifestação de quem sabe das coisas sempre foi o silêncio. Nino foi à praia, caminhar a esmo.
Conhecia o hábito da privação da fala existente nas prisões. O sábio sigilo dos momentos de espera. A quietude inviolável do rosto de Zeca, que vira estampada junto àquela mesma areia, e que jamais se apagou de sua memória. Fez, naquele ano, o que julgou necessário a sua honra de traído. Pagou no cárcere. Rosa, depois disso, sumiu.
As primeiras ondas gigantescas começam a quebrar aos seus pés. Sente um vago agrado do que julga ser surpreendente. Algo que virá daquele céu escuro e temeroso. Caminha, caminha, caminha e desaparece.
Depois do vendaval a aldeia conta seus restos. Um inventário de nadas. Mas todos estão lá, menos Nino, que viram apenas que andava na areia, na hora da coisa.

Um comentário:

  1. Ouvir o silêncio... o instante de sabedoria e a maneira mais trágica de negação. Ando me sentindo num mar de paradoxos (:essa minha literatura aflita), sendo empurrado por um vento que não sinto soprar. Aqui me recupero. Beijo e ótima semana.

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