segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A decepção

A decepção surgiu naquele breve momento que aparece quando uma tensão acaba. Sem a alegria do náufrago pisando em terra firme, Guilherme queria afogar outras mágoas naquela garganta de Gisele, agora morta. Roçavam-lhe aparições de um tempo de fôlego. Silhuetas em movimento. Turras e risos. Destroçados pelo presente inerte de Gisele e suas pálpebras em roxo cintilante. O eco abafado da última boca em êxtase alongava uma tênue caverna que, bem lá no fundo, talvez guardasse o coração que um dia pulsou apaixonado, enamorado, festivo. Haveria de deixá-la para sempre ali, ainda que rumasse torto numa fuga compulsiva. Talvez se entregasse à polícia, não sabia. Como desconhecia ao certo se aquela execução incrédula tinha mesmo sido realizada, nos moldes da intransigência e gim, dos quais agora ressentia.

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