terça-feira, 3 de agosto de 2010

Céu sereno

Céu sereno, povoado agitado. Manifestação inquietante ante a tal cobra que por lá andava às tontas. Bezerro comido aqui, rastro ali, histórias acolá. Olhares acusadores para Demétrio. Seu tambor era o que chamava a víbora. Demétrio nem tchum. Negro recluso de nariz argolado. Mal pronunciava pedidos de esmolas, articulados às pândegas. O tambor era uma velha lata, que um dia transportou tinta amarela para a igrejinha pintada. “Bum, bum, má dá café! Bum, bão, má dá pão!”. E só. Nem uma sílaba solta a mais. Irascível incompreensão humana, sabe-se lá por qual peçonha, deu para acusá-lo do mal comum. E o ponto de linchamento do coitado já se aproximava, quando o ceguinho da matriz abriu os olhos da plebe: “se a cobra entende até o Demétrio, imagino que ela irá embora, se vocês explicarem que deve partir”. Cada qual em sua casa fez sua parte. Parte com a própria voz, parte com São Bento, e a cobra nunca mais apareceu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário