quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Alimento farto

Alimento farto virou álcool. Daquelas terras mal sobravam parcos espaços, feito vielas áridas de chão batido, serpenteando às vezes sem nexo ou fluxo certo o meio do canavial inevitável. Paulo que viveu ali desde os dias das roças era agora uma sombra impertinente desviando da cana alta. Um aquário no mar. Uma roseira pálida no caniçal impiedoso de usinas que lhe superavam o perfume. Não havia vista nem chance. Tomado de cegueira pelas barreiras das plantas; de indignação, pelo insucesso dos pais e parentes, antigos produtores de arroz, feijão, café e laranja. Na realidade labiríntica daquelas glebas verdes, virou personagem de um videogame sórdido, que em breve entraria numa nova fase: a das queimadas. Todo o tédio ainda que verde ficaria preto e espalharia fuligens, independentemente da habilidade do jogador. Era preciso sair dali, sob pena de um “game over”.

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