terça-feira, 10 de agosto de 2010

Cisma sempre

Cisma sempre teve lá as suas. Ainda dizia que o homem que não é cismado tem sempre umas doenças da cabeça, por ocupá-la só com gulas, por comidas e mulheres. Naquela idade, todo mundo ouvia o Irineu e sentia seu cheiro de pouco banho, sentado à fresca sob as árvores perfumadas de jambo amarelo. Ainda antes do dia, acendia o palheiro com fumo goiano, distribuía pão amanhecido com leite aos cães vagabundos e se acomodava no banquinho de madeira, como uma galinha choca, abanando as nádegas murchas de penas pra lá e pra cá, até se ajeitar. Ali ficava, tabacando filosofias, prosas fumegantes e recolhendo as conversas que outros jogavam fora. Irineu perdeu a pressa depois que os filhos cresceram. Encontrou a sensação de provisório no mundo e se afeiçoou a ela, só não gostava de falar da morte. Pura cisma.

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