segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Ajoelhava e vibrava

Ajoelhava e vibrava. Era dado às crenças cuja necessidade de gestos e posturas deveriam sobrepor à própria fé. Daí não gostasse de orações introspectivas. Açoitou-se às costas, bateu cabeça, recebeu santo, aplaudiu o céu. Talvez imaginasse que Deus fosse surdo ou distraído, que as portas da salvação devessem ser derrubadas às pernadas ou que a vida após a morte haveria de ser um trio elétrico, cujo lugar no cordão só se conquistasse com empurrões e cotovelos. Ajoelhado e vibrante foi acometido por uma enorme diarréia, suores e calafrios incorporaram-se aos movimentos. Sôfregas palavras passaram a palpitar-lhe o cérebro convicto que, naquela hora, o ritual não poderia ser interrompido por absolutamente nenhuma distração exterior. Só não contava com a íntima revelação interior. Virou merda.

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