sexta-feira, 1 de abril de 2011

Como sempre

Como sempre trouxesse para si o que era alheio, justificava-se dizendo que Karl Marx, cansado de sua dureza, criou para si próprio seus pensamentos econômicos. Que Schopenhauer, entediado com o mundo, escreveu o que escreveu para uso pessoal. Silvério era, enfim, a própria justificativa de sua vida sem grandes ideias ou realizações generosas. Imbuído de repentina megalomania, no entanto, pensou em escrever a obra definitiva da literatura do mundo. Tratou advérbios com a fineza dos pronomes, remanejou elipses, hiperbolizou conclusões, capazes de minimizar Cervantes ou tornar Camões um amador nas rimas. Sem pensar em convencer o leitor, mas antes a si próprio, tirou o “sil” de seu nome, assinando apenas Vério, para trocadilhar com velho (sábio), vero, verdadeiro. A proliferação de textos provavelmente o salvou do suicídio, mas não houve um são editor que a quisesse publicar.


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