terça-feira, 12 de abril de 2011

Bajulador, assim

Bajular, assim, de doer, Alberto bajulava. Fosse rosa o lábio de Cleusa, e ele já ressaltava o vermelho intenso. Vestisse platônico seu vestido verde, e já Alberto lhe louvava imensa mata. Com um acinte à beira do tédio, sabe Alá o que visse, Alberto aumentava as mesuras para Cleusa. De curvas, contornos; gases, aromas; coceiras, regalos; demoras, pausas; fabricava eufemismos para não ofuscar mínimas façanhas. E lidava tão bem com o falso, que Cleusa logo se imaginou na realeza. Deu para andar de mototaxi e trocar o celular todo ano. De deusa à vista de Alberto, virou bruxa longe dela. Ele, sonso e interessado, não perdeu o tom. Quando a divindade baixou de braços dados com Ernestão, foi Alberto quem tratou de arrumar-lhes o leito. Cedeu casa, comida e cerveja gelada. Depois foi ao bar, contar vantagens: “de usuário, passei a fornecedor”.

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