segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A renda líquida

A renda líquida era disputada a sólidos bofetões. Salário para cinco, ganhado por apenas um, logo era investido em soluções apocalípticas. A mais velha, com seu olho gordo, queria sua parte para o rímel e os batons. O do meio daria o reino por um bigmac. Ao mais novo cabiam sobras, excetuado um ou outro paparico da mãe. Aliás, Rosa Margarida, a mãe, não era flor que se cheirasse. Infiel de nascença casou-se com Eládio no golpe de barriga, coisa esta que na época não tinha, mas que lhe sobrava agora, sobre as laterais do cinto cintilante. Tudo iria bem para todos não fosse a súbita desconfiança de Eládio. Mais novinho emporcalhado, o do meio lambuzado de mostarda, a mais velha no espelho do banheiro dos fundos. Cadê Rosa Margarida? Quando voltou suada e satisfeita, o homem mirou seu coração e acertou no tormento: “Fui! Vá se virar pra arranjar o seu!”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário