sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Morto veloz

Morto veloz, né? O velho Nelson era de frases curtas, vida lenta e tinha um quê de perplexidade com a agitação da modernidade. Quando viu passar o enterro, com o esquife numa van e vários carros atrás, lembrou-se que acompanhava féretros a passos pausados por dores e respeitos. Não havia gestos largos na intimidade das mortes. Quem cheio de vida apenas visse o cortejo tratava de baixar a cabeça, tirar o chapéu, reverenciar seu próprio futuro. Mas era passado, mortos passavam e a comoção que havia vinha das entranhas. Então o velho Nelson entristecido lembrou-se do neto: o vivo. Da vida bandida que o rapazola levava por um fio, com revólver na cinta e dedo frouxo, ávido por apertar o gatilho. Besta humana, Nelson disse a si em frase curta, enquanto tirava o baralho engordurado do bolso de trás, para mais uma partida solitária do jogo de paciência.

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