segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Na vastidão

Na vastidão do quarto olhou pro teto e viu a sombra da arandela transformar-se em lança. Um ataque surpresa do velho mundo? Nenhuma arma digital ou teleguiada, apenas aquela, velha, e sua ponta, a se lançar estática em imaginações móveis, apontando o céu que dali nunca se via. Agora já seria impossível movimentar os indiozinhos de seus sonhos, os cavaleiros cruzados de sua nostalgia infantil, arqueiros ou catapultadores de lembranças. Naquela cama, imóvel na meta do médico, só olhos e cérebro poderiam atuar livremente. E se apagassem a luz extinguiriam a lança, porque já não dependia dele a vitória dessa ou daquela tribo, o massacre ao clã de outrem ou o combate rumo à conquista pelas tropas persas, árabes ou bizantinas. Embora minúsculo, o quarto era grande demais para ser conquistado em única batalha, haveria de se promover uma guerra pela sobrevivência, mas suas forças estavam indolentes demais para apanhar aquela lança.

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