quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Admitindo a existência

Admitindo a existência de um cérebro guerreiro nas aranhas, Godalberto vislumbrou, por suposto homogêneo, que sua sogra tinha traços aracnídeos. Voltou-se à densa pesquisa para justificar sua hipótese, se apegando não raramente às percepções aguçadas que mantinha sobre a velha. Tal ácaros e carrapatos, descreveu-lhe as patas verbais utilizadas para capturar as presas, e sugar-lhes a vida. No adiantado dos estudos, constatou a existência de glândulas de veneno, utilizadas para paralisar suas vítimas, quase sempre digeridas fora do corpo, naturalmente, depois de lançar sobre elas certas enzimas, capazes de propiciar uma espécie de pré-digestão. Nunca pode provar que a tal tivesse quatro pares de pernas, apesar da distância e velocidade com as quais aparecia em todos os lugares, mas manteve sua suspeição até o fim, quando a esposa enfadada com seus relatos lhe propôs imperativamente que parasse com aqueles estudos. Godalberto entristeceu-se profundamente, não por questão pessoal, mas pela ciência.

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