sábado, 13 de novembro de 2010

Quebrou o lacre


Quebrou o lacre... e viu que era bom. O prazer percorreu-lhe o corpo, saciado enfim após suar por horas. Nunca nutrira pelo chá grandes paixões, exceto nos tempos de gripes, mas aquele, gelado, no lugar adequado, deu ânimo. Tempo não havia para as boas sensações de provisório. O ruído da fábrica era inequivocamente rápido para deslumbramentos. Como querer fazer amor e não ter com quem: orgasmo implorativo, aquele chá, naquela hora. O pai contava sempre do bem da água para o corpo. Palavras com frescor. Agora, depois de anos, de encabulamentos, daquele chá, compreendia com inocência inquietante a voz do pai. Parecia prestar venerações no estalo do palato. Reverência retardada, sentia que era. Talvez até nunca a descobriria, sem aquele chá.
(Rio de Janeiro - RJ)

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