quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Conciliação não

Conciliação não passa pela poeira da estrada, que fica para trás. O giro das rodas traduz a pressa de Nilson. E pensar que ontem, ele pensa, ainda choraram juntos, no enterro da mãe. É tarde em todos os sentidos. Quase seis, no relógio arrancado do pulso da irmã. Já quase morta? Ele pensa que não, mas não para. Ela não deve ter morrido, mas padece muito. Foi merecido. Se o primo não tivesse visto e denunciado, eu seria um tolo, um profanado moral, pensa Nilson. Que se danem os parentes, deixa-dissos odiosos. Acelera em fuga e não para para pensar na surra, no choro, gritos e gotas de sangue. Irmã cretina, reforça Nilson, convencendo-se da justiça praticada. Ele agora foge, mas a canalha mereceu. Não se furta terço de ouro das mãos e da devoção da defunta. Tinha história. A mãe sempre rezou com ele pela paz entre os filhos.

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