domingo, 21 de novembro de 2010

Filme idêntico

Filme idêntico à vida era aquele. O mocinho amava a mocinha que amava o mocinho, mas havia bandidos. Falsários internacionais davam as cartas aos falsários nacionais e ambos queriam dominar o mundo e as riquezas. O mocinho estava na trama, em defesa dos interesses nacionais; a mocinha entre as pessoas do mundo, dominadas. Nenhum milagre alegrava a vida, falada a parcos pulmões, quase mórbida, em ambos os lados: conspiração e respiração ofegante. O céu trabalhava relampejando como coadjuvante. A lógica escassa só apareceu na penúltima cena, quando tudo haveria de se tornar mais visível, mas era à beira da morte de muitos. Uma promissora esperança ainda pairou antes da paisagem que denotava o final da sessão. E a gente ali sentada ao lado dos piruás da pipoca, mexia energicamente a língua na vã esperança de retirar com ela as casquinhas de milho entre os dentes. Com a vida reduzida a uma telinha de televisão de vinte polegadas.

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