terça-feira, 9 de novembro de 2010

Antes do angu

Antes do angu, que aflição. Olhava as nuvens indecisas com a fome de Cabral por terra à vista. Foi lenta a agonia da chegada à cidadezinha. A pé no ermo das matas as estradas são intemporais. Sabe-se lá quantas horas faltam até próxima parada onde haverá gente. Pulavam soluços no esôfago, a fraqueza doía. Então meio tantã pensou ter visto uns assados, arroz soltinho e água fresca. Generosa visão de uma pedra escura e mal posicionada no caminho árido. Dissolvia-se em calor, enquanto cubos de gelo tilintavam-lhe o cérebro sôfrego. Deve ter caído de solidão, não se lembra. Da cama pobre, paredes com barro e palha, é que o quadro recomeçou a se formar na memória. A velha parecia-lhe freira, e ele, num altar, entre flores do campo que o ladeavam nos criados mudos. Então... o cheiro. A ansiedade do estômago, o angu fumegante. Nem uma pieguice qualquer conseguiu recitar em agradecimento. Lambuzou-se ao eco de cada colherada que lhe chegava à boca. Enfim, fênix.

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