segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Outro corte

Outro corte no coração, definitivamente, não. Agora, com Lia, tinha um quê de John e Yoko, em silhuetas difusas no contra luz. Duas uvas, precocemente maduras, já transformadas em vinho de qualidade. Único e insuspeitado prazer. Até o dia da janela. Viu que Lia olhava pelas grades, como se além da visão também sua alma estivesse gradeada. Vaga como aquele céu sem nuvens. Uma extensa planície de ideias formou-se à vista de um Fabrício silencioso e abalado. Meio ansioso, meio pobre diabo decaído pela suspeita de outra iminente intenção de final. Temia perguntar se “tudo bem, Lia?”. Naquela hora, ela responderia, e já não haveria como segurar o sonho de ardor contínuo. Tentou disfarçar falando do filme que viram juntos na noite anterior: Tropa de Elite 2. A virada de Lia, olhar que lhe conferiu, a cara do mais autêntico tédio já caracterizaram um filete de sangue... “Tá bom”, ainda tentou Fabrício, “vamos falar de futebol”.


Um comentário:

  1. Ain, judiação do Fabrício!
    Adoro a forma como escreve, tudo muito ligeiro e sem enrolação.
    Você mostra de forma simples o cotidiano em situações das mais variadas.
    As pitada de crueldade dão as micro-crônicas um ar de "história verídica".
    Sou seu fã.

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