quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Vultos informes

Vultos informes se formavam lá pelos lados da lagoa escura. Permanecemos em silêncio, porque sabe-se lá... Quis formular ao Antero a pergunta crucial, mas segurei. Há anos não acredito em fantasmas. Não muitos deles, os anos, é verdade. Acho que foi desde que meu finado pai morreu, faz dez ou doze invernos. Naquela penumbra reconheci coisa rasteira: bicho do mato que movia a cabeça e parava. Não sabia se sentia medo ou vontade de escrever um poema. Como não sei fazer poema... Falei ao Antero: “vai ver!”. Eu eim? Ele disse. Com discrição absoluta assobiei um Bach, que não combinava muito com aquele brejo, mas dizem que acalma. Aquilo foi desaparecendo em transição entre luz e sombra. Sem alarde, sem barulho, sem explicação. Deve ser a tal harmonia da natureza. Agora, sim, eu sei que existe.


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