quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Abra a boca

Abra a boca e feche os olhos! Rute obedeceu desconfiada, sobretudo porque aquela brincadeira, tão comum no tempo da avó para oferecer algo saboroso à obediência, jamais havia sido praticada por seu irmão Dario. Na dúvida, abriu, mas temeu fechar. Ele guardou o mimo atrás do corpo, com as mãos entrelaçadas nas costas. Ela titubeou. Fosse algum deboche e ele teria mostrado. Fechou. Ele passou-lhe algo nos lábios e tornou a ocultá-lo. Não vale, lhe valeu ouvir. De novo, pra valer, replicou pedindo a réplica do ritual. Ela desconfiou, mas abriu, fechou. E aquele gosto adocicado que sentiu pareceu-lhe um nostálgico êxtase, feito a cocada da avó nas tardes de sábado.


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