domingo, 23 de outubro de 2011

Descorada de raiva

Descorada de raiva dona Alice bateu a porta, disse íntimos xingamentos e pisou firme na calçada e nem cumprimentou a vizinha que passava e entrou com uma admiração perplexa em sua casa amarela. O marido arriscou um olhar por trás do antúrio que regava, e só e silencioso. Lembrou-se dos idos tempos da tensão pré-menstrual de Alicinha, do qual se livrara há mais de dez anos, por Deus. “Como pode? Uma mulher tão maravilhosa!”. A água, que então entornou do vaso, sim, ela viu apesar da cólera. E já se preparava para ralhar com o velho, quando ele lhe tomou à frente: “Olha aqui, Alicinha, você está proibida de vender coxinhas praquela vizinha bruxa!” Dona Alice o fuzilou com o olhar, mas seus olhos foram perdendo ira, o rancor amoleceu, a expressão foi abrandando e dos cantos dos lábios já se notava um sutil sorrisinho monalísico e ela passou a mão no cabelo e já doce disse a ele: “ah, meu velho!”.

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