terça-feira, 25 de outubro de 2011

Nunca consolou

Nunca consolou os aflitos, entretida com suas carolinas e mantecais. Para a tragédia alheia que se avizinhava, batia as caldas, untava as formas, moia o café. Fazendo doces ou novenas purificava a alma com palavras finas, elevadas como aquelas do espírito majestoso das rezas clássicas. Houvesse terra e houvesse céu pra tanta devoção. “Graças vos dou”, dizia a quem pedisse, servindo também na bandeja acepipes principescos ou fatias de manjares. Balancei a cabeça, estômago e paladar agradecidos, mas a mordacidade me beliscava a massa encefálica. “A senhora é uma das mulheres mais espertas que eu conheço, dona Lola!”. Ela adorou, como adorava coisas pequenas, e se fez de rogada: “aceita mais um pudim?”.

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