segunda-feira, 20 de junho de 2011

Perante o fato


Perante o fato, já enfadado, Peri cometeu o ato pedante. No silêncio dos espectadores do velório, levantou a voz, como para impedir que os olhares curiosos penetrassem desmedidos no mundo secreto da viúva. “Morreu feliz, o Armando, ara!”. Todos sabiam do infarto, do quarto e da circunstância vexatória com a qual os jornais noticiaram a morte no motel, mas se fingiam tontos. Jacarés ao sol na beira do lago. Mocinhas em baile de debutantes. O vozeirão de Peri surpreendera a farsa. Mas teria ficado por isso mesmo, não fosse a revelação seguinte: - “Ele deixou um caderninho, onde anotou particularidades de cada um dos senhores”. Gilberto, saiu de fininho, e deixou-se atropelar por um caminhão em frente ao cemitério. Justo ele, coitado, desconsiderado por Armando, cujo nome jamais mencionou na lista dos bons amigos.

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