quinta-feira, 2 de junho de 2011

Frio na espinha

Frio na espinha Juarez sentiu quando o maestro silenciou os demais músicos, e segredou-lhe de improviso: - O solo é com você. Feito viúva de rico negociante, turista mudo ou piloto cego, Juarez pôs-se a soprar seu sax, arremedando um velho vídeo que vira de Charlie Parker. Os gestos foram falsamente precisos, mas aquilo que saía do saxofone, não. A harmonia deu vertigem e o assopro abstrato levava ao vento às notas vãs. “Desista, Juarez”, chegou a pensar quando a temperatura da música haveria que se elevar, sem a guarida dos demais instrumentos. “Então, eu sou pássaro!”, convenceu-se tal “Bird”, e expressou a técnica assustada até ouvir ao fundo o piado sutil do piano; o trinado claro do trompete; e, a bateria, chegando como quem não quer nada. Poucas vaias e muitos louvores depois, Juarez curvou-se em agradecimento à platéia. Enfim, tocara um jazz.

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