quarta-feira, 8 de junho de 2011

Debaixo do telhadinho




Debaixo do telhadinho havia uma mulher com o cigarro aceso. Impressionava menos pelo biótipo, do que pela fumaça que espirava por ventas e boca. O cinza daquilo cobria o marrom das telhas. Provavelmente fora condenada à fogueira por alguma inquisição displicente, e fez-se Joana D’Arc, queimada viva, naquele pedacinho de teto nublado. Nos raros momentos em que se via a brasa brilhar outro trago, parecia haver-lhe um véu vermelho ou lhano pano envolvendo-lhe a face rubra alaranjada. Se fosse daqui, provavelmente haveríamos de conhecê-la, porque a vila era do tamanho de um ovo no dizer simples daquele povo. Sem rimas, mas amável. Sem grandes coisas, mas repleta de muitas pequenas esperanças móveis. Mesmo as baforadas tinham nome. Exceto aquela sob o telhadinho, que de tão estranha ninguém mais viu. Alguns nunca mais deixaram de chamá-la Maria. Outros, só a citavam, por ouvir dizer.

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